Entre Jaspers e o "jovem Foucault": Antropologia, Loucura, Obra e Civilização



Miotto, M. L. (2022). ENTRE JASPERS E O “JOVEM FOUCAULT”: ANTROPOLOGIA, LOUCURA, OBRA E CIVILIZAÇÃO. ARARIPE — REVISTA DE FILOSOFIA, 3(02), Artigo 02. https://doi.org/10.56837/Araripe.2022.v3.n02.1092

O presente trabalho pretende analisar as relações entre loucura e obra no jovem Foucault, isto é, no Foucault dos anos 1950 que realiza seu curso sobre antropologia (La Question Anthropologique) em Lille e na ENS entre 1952 (ou 1951) e 1955. Para estabelecer o problema, o texto começa com uma contextualização inicial sobre os inéditos de Foucault disponibilizados desde 2013 na BNF. Então o texto constrói o problema a partir de comentadores (especiamente Jean-Baptiste Vuillerod) e encontra na figura de Karl Jaspers um interlocutor importante, em torno do qual Foucault gira para estabelecer suas próprias posições. Jaspers, psiquiatra e filósofo, contém teses sobre a loucura, a obra e a civilização diretamente ligadas aos interesses do jovem Foucault. Tanto a leitura de Jaspers sobre Nietzsche, quanto a das relações entre loucura e obra, serão importantes para o jovem Foucault, pois é por meio de Jaspers - dentre outros - que uma psicologia da loucura e da obra (seja qual for seu paradigma) desemboca na análise de figuras como Maurice Blanchot, na leitura singular que Foucault faz de Nietzsche e nos problemas que o levarão a uma história da loucura.

This article aims to analyze the relation between madness and work (oeuvre) in the “young Foucault”, focusing on the Foucault’s lessons of Anthropology taken in Lille and at the ENS between 1952 (or 1951) and 1955, under the title La Question Anthropologique. In order to place this problem, the text begins with an initial contextualization of Foucault’s unpublished works, only made available since 2013 at Bibliothèque Nationale de France. Then the article passes to the question of the madness and work according to some commentators (especially Jean-Baptiste Vuillerod) and finds in the figure of Karl Jaspers an important author, whose reference serves for Foucault to compose his own positions. Jaspers, psychiatrist, and philosopher, contains theses on madness, work and civilization directly linked to the interests of the young Foucault. Both Jaspers’ reading of Nietzsche and considerations about madness and work will be important for the young Foucault, as it is through Jaspers (among others) that the psychological and existential positions on madness and work leads Foucault to the analysis of figures like Maurice Blanchot, to his own reading of Nietzsche and to the problem of a history of madness.

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Michel Foucault e A Questão Antropológica: precisões históricas e conceituais

 Miotto, Marcio (2022). Michel Foucault e A Questão Antropológica: precisões históricas e conceituais. Lampião 3 (1):125-169.

O presente trabalho pretende estabelecer algumas precisões históricas e conceituas em torno da formação da história arqueológica de Michel Foucault, tendo como foco um livro póstumo e recém lançado, intitulado La Question Anthropologique (2022). Esse livro trata de um curso sobre “antropologia” ministrado por Foucault entre 1952 (ou 1951) e 1955, em Lille e na ENS. As precisões históricas e conceituais tratadas aqui são em torno dos seguintes contextos: primeiramente, analisa-se a escassa literatura de comentário anterior ao lançamento do livro em 2022; depois, parte-se ao horizonte de leituras de Foucault na época, especialmente ocorridos em torno da figura de Nietzsche. Essas leituras ocorrem em diversas frentes, tais como as figuras de Heidegger e Jaspers, a importância da história das ciências, a interlocução com Althusser e Jacques Martin em torno de Marx e a questão da loucura e da psicanálise.

The present work aims to establish some historical and conceptual clarifications surrounding the formation of Michel Foucault’s archaeological history, considering a recently published posthumous book entitled La Question Anthropologique (2022). This book thematizes a course on “anthropology” given by Foucault between 1952 (or 1951) and 1955, in Lille and at the École Normale Supérieure. The historical and conceptual analysis concerns the following subjects: firstly, the text analyzes the scarce secondary literature published before the book’s launch in 2022; secondly, the article focuses some readings made by Foucault in those years, especially surrounding the figure of Nietzsche. These readings occur on several fronts, such as: the influence of Heidegger and Jaspers, the role of the history of sciences, the dialogue with Althusser and Jacques Martin on Marx and the themes of madness and psychoanalysis.

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"All testing, all confirmation and disconfirmation of a hypothesis takes place already within a system. And this system is not a more or less arbitrary and doubtful point of departure for all our arguments; no it belongs to the essence of what we call an argument. The system is not so much the point of departure, as the element in which our arguments have their life."
- Wittgenstein

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"Le poète ne retient pas ce qu’il découvre ; l’ayant transcrit, le perd bientôt. En cela réside sa nouveauté, son infini et son péril"

René Char, La Bibliothèque est en feu (1956)


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