Nietzsche: #99 Vontade de Potencia

a) Para a história do cristianismo

(99) O sacerdócio judaico soube apresentar tudo o que ele exigia, como se fosse preceito divino, como obediência a mandamentos divinos, e também introduzir tudo o que servia para conservar Israel, para lhe facilitar a existência (por exemplo, um conjunto de práticas religiosas: a circuncisão, o sacrifício, como centro da consciência nacional), não como obra da natureza, mas como obra de “Deus”. — Esse processo continua; dentro do judaísmo, desde que não se sentiu mais a necessidade das “práticas religiosas” (como baluarte contra o exterior), podiam conceber uma espécie sacerdotal de homens que se comportaria como a “natureza nobre” em face da aristocracia; um caráter sacerdotal da alma, sem castas e de qualquer maneira espontâneo, que para se diferenciar fortemente de seu oposto, concederia importância não às “práticas religiosas”, mas aos sentimentos...

No fundo, tratava-se de fazer vingar, de novo, certa categoria de almas: era de qualquer maneira uma insurreição popular no meio de um povo sacerdotal, — movimento pietista que vinha de baixo (os pecadores, os publicanos, as mulheres e os doentes). Jesus de Nazaré era a palavra de ordem sob a qual se reuniam. E de novo, para poder crer em si mesmos, tiveram necessidade de uma transfiguração teológica; tiveram necessidade do “filho de Deus”, nada menos que isso para obter confiança. E da mesma forma que os sacerdotes falsificaram completamente a história de Israel, retornam à mesma tentativa, para falsificar, para transformar toda a história da humanidade, no intuito de fazer aparecer o cristianismo, como o acontecimento cardeal. Este movimento somente se poderia organizar sobre o terreno do judaísmo, do qual o traço capital era o de ter confundido a culpa e a desgraça e de transformar toda culpa em pecado ante Deus: o cristianismo eleva tudo isso à segunda potência.

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"All testing, all confirmation and disconfirmation of a hypothesis takes place already within a system. And this system is not a more or less arbitrary and doubtful point of departure for all our arguments; no it belongs to the essence of what we call an argument. The system is not so much the point of departure, as the element in which our arguments have their life."
- Wittgenstein

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