Alexandre Franco Sá: Finitude e liberdade na confrontação de Heidegger com Kant

O estudo que aqui pretendemos apresentar parte da consideração
conjugada de dois aspectos essenciais que caracterizam o desenvolvimento do pensamento de Heidegger no seguimento da publicação
da primeira parte de Sein und Zeit, em 1927.

O primeiro aspecto a que nos referimos consiste no facto de Heidegger, depois de publicadas as duas primeiras secções da primeira
parte dessa obra, não ter prosseguido o plano inicial, deixando assim
incompleta aquilo a que se poderia chamar a sua primeira tentativa de
elaboração de uma “ontologia fundamental”. Com efeito, nas páginas publicadas em 1927 sob o título Sein und Zeit, Heidegger esboça aquilo a que ele mesmo chama uma “analítica preparatória do Dasein”, ou seja, uma analítica preparatória do ente que “nós mesmos
somos”, abordando-o a partir da “abertura ao ser”, da compreensão
do ser (Seinsverständnis), que determina a constituição ontológica
desse mesmo ente. Uma tal analítica era preparatória na medida em
que deveria preparar uma ontologia fundamental: uma consideração
do ser em geral na sua articulação meta-ontológica com os vários
modos de ser possíveis, os quais deveriam ser fenomenologicamente
diferenciados e caracterizados. é justamente esta ontologia fundamental meta-ontologicamente articulada, a qual deveria ser estabelecida na sequência do projecto delineado em Ser e tempo, que é
deixada por Heidegger num estado de incompletude.

O segundo aspecto que pela nossa análise é visado consiste no
facto de Heidegger ter trocado a prossecução do plano inicial de Sein
und Zeit, em relação à qual as lições de Marburgo do semestre de
Verão de 1927, desenroladas sob o título Grundprobleme der Phänomenologie, representam um derradeiro esforço1, por uma confrontação (Auseinandersetzung) com o – ou, o que na terminologia de Sein und Zeit é o mesmo, por uma “destruição” (Destruktion) do – projecto crítico de Kant. é uma tal confrontação que se inicia com as
lições intituladas Phänomenologische Interpretation von Kants Kritik der reinen Vernunft, as quais decorrem no semestre de Inverno de
1927-1928, e que atinge o seu ponto culminante com a publicação
de Kant und das Problem der Metaphysik, em 1929, no contexto do
debate de Davos com Ernst Cassirer. E é nesta mesma confrontação
com o projecto crítico de Kant que Heidegger interpreta este mesmo
projecto a partir da sua contraposição ao neokantismo da Escola de
Marburgo.

Conferência inédita, proferida em 2007, no Brasil - em arquivo PDF

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"All testing, all confirmation and disconfirmation of a hypothesis takes place already within a system. And this system is not a more or less arbitrary and doubtful point of departure for all our arguments; no it belongs to the essence of what we call an argument. The system is not so much the point of departure, as the element in which our arguments have their life."
- Wittgenstein

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