Michel Foucault: A Pesquisa Científica e a Psicologia (1957)

In: Espaço Michel Foucault (2010)

As múltiplas psicologias que pretendem descrever o homem dão a impressão de ser tentativas desordenadas. Elas pretendem se construir a partir das estruturas biológicas e reduzem seu objeto de estudo ao corpo ou o deduzem das funções orgânicas; a pesquisa psicológica não é mais que um ramo da fisiologia (ou de um domínio dela): a reflexologia. Ou então elas são reflexivas, introspectivas, fenomenológicas e o homem é puro espírito. Elas estudam as diversidades humanas e descrevem a evolução da criança, as degradações do louco, a estranheza dos primitivos. Ora elas descrevem o elemento, ora pretendem compreender o todo. Às vezes se ocupam exclusivamente com a forma objetiva do comportamento, outras vezes vinculam as ações à vida interior para explicar as condutas, ou ainda pretendem apreender a existência vivida. Algumas deduzem, outras são puramente experimentais e utilizam estruturas matemáticas como forma descritiva. As psicologias diurnas querem explicar a razão da vida do espírito pelos clarões decisivos da inteligência, enquanto as outras visam as inquietantes profundezas da obscuridade interior. Naturalistas, elas traçam os contornos definitivos do homem; humanistas, reconhecem nele algo de inexplicável. Esta complexidade é, talvez, justamente a nossa. Pobre alma (as psicologias que hesitam sobre seus conceitos não sabem sequer nomeá-la), cercada de técnicas, remexida de questões, posta em formulários, traduzida em curvas. Auguste Comte acreditava, com algumas reservas, que a psicologia era uma ciência ilusória, impossível e a menosprezou. Não somos tão ousados. Apesar de tudo, há psicólogos, e que pesquisam.

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"All testing, all confirmation and disconfirmation of a hypothesis takes place already within a system. And this system is not a more or less arbitrary and doubtful point of departure for all our arguments; no it belongs to the essence of what we call an argument. The system is not so much the point of departure, as the element in which our arguments have their life."
- Wittgenstein

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"Le poète ne retient pas ce qu’il découvre ; l’ayant transcrit, le perd bientôt. En cela réside sa nouveauté, son infini et son péril"

René Char, La Bibliothèque est en feu (1956)


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