Malebranche no curso de Merleau-Ponty

Extrato de MALDONADO, Stephanie Ares. A união da alma e do corpo em Malebranche, Biran e Bergson, notas tomadas no curso de Maurice Merleau-Ponty na Escola Normal Superior (1947-1948); recolhidas e redigidas por Jean Deprun. Rev. NUFEN [online]. 2017, vol.9, n.2 [citado  2019-03-30], pp. 143-146. ISSN 2175-2591.

Malebranche, apesar de certo modo aderente ao idealismo cartesiano, consegue identificar que há "algo " no conhecimento que escapa às ideias claras e às formulações matemáticas, sendo esse "algo " um saber da experiência (mesmo que essa experiência se limite às vontades divinas). Porém, assim como Descartes, Malebranche não consegue "compreender as coisas tais como elas são " (Merlau-Ponty, 2016, p. 12) como desejara, porque assim como o primeiro, afastara a inteligência do corpo e atribuíra à outra coisa (Descartes à alma e Malebranche ao Deus).

A diferença essencial entre os dois está no finalismo em Malebranche, que punha o mundo como apenas uma passagem obrigatória do humano, um obstáculo, onde nós só temos acesso ao conhecimento que Deus nos coloca, em busca de um propósito final também definido por Deus. Assim sendo, Deus é o "núcleo " para o conhecimento (Merlau-Ponty, 2016, p. 39).

No entanto, mesmo atribuindo a Deus a passagem do "em si " puro ao "para si ", Malebranche merece crédito por ter instaurado a problemática desse dualismo, que é no fundo, a própria pendularidade da filosofia (e da ciência) entre o idealismo e o realismo.

Como há diferença entre os saberes da alma e os do corpo, sendo que entre ambos só há uma "comunicação contagiosa " (Merlau-Ponty, 2016, p. 24) e, portanto, nunca plena, consigo identificar um mundo (e coisas no mundo), mas só conheço dele o que Deus me permite. É uma eterna busca, um eterno questionar. A real ultrapassagem dessa dualidade não é ainda efetuada por Malebranche, tampouco na sua Teoria do Juízo Natural, mas seria o filósofo o responsável por apontar para uma possível compreensão de uma consciência aberta, fissura que seria tão importante na fenomenologia de Merleau-Ponty (e que se presentifica tanto nesse livro quanto em tantos outros).

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